A CAUDA LONGA
Mais do que nunca vivemos num mercado de nicho, e é isso que Chris Anderson traz em sua obra, mostrando o quanto isso está se firmando como uma nova economia em meio ao mercado de entretenimento. As listas dos mais vendidos já não tem mais toda a importância quando passa a dar espaço as estantes virtuais, as quais proporcionam visibilidade aos produtos que não se viam em ambientes físicos.
Com as novas tecnologias e todo aparato que provém delas, a procura por produtos e entretenimento transforma-se em uma oferta muito maior em decorrência a falta de necessidade de se ter um espaço físico para as mesmas. Um exemplo que o autor traz é o caso das lojas online: nelas o consumidor tem a facilidade de encontrar produtos que nos espaços físicos não ofereciam, seja pela falta de estrutura/espaço ou pela própria demanda.
Mas essas novas tecnologias não trouxeram mudanças apenas para a economia. A interação e o compartilhamento de informações a partir de softwares e ferramentas de produção, fez o internauta deixar de ser somente um consumidor passivo e o tornou um produtor ativo: atualmente é simples criar um blog, acessar programas de edição de fotos e vídeos, etc. É bem como o autor resume em uma única frase esse fenômeno: “quando as ferramentas de trabalho estão ao alcance de todos, todos se tornam produtores”.
Um outro exemplo em grande evidência é relacionado a indústria musical. Com a internet, qualquer artista ou banda não depende mais unicamente de uma gravadora para se promover e fazer sucesso. Muitas bandas obtiveram visibilidade somente com divulgação online (inclusive existem sites/plataformas que proporcionam esse espaço para os músicos, como no Brasil temos a Trama Virtual). Tudo isso é o reflexo das trocas de informações, onde no meio digital o boca a boca é o “link a link” e a cultura criada com a máxima “do it your yourself” gera um alcance absurdamente maior de pessoas engajadas.
A cauda longa, como vimos nos principais exemplos citados, pode tornar-se um fator importante da criatividade tanto de quem vende/produz quanto de quem compra. Com ferramentas de baixo custo e o sucesso comercial não ser o motivo principal de seus produtores, as ideias que neste meio e em seus nichos se desenvolvem conseguem atingir o topo.
O TAMANHO DAS TELAS
Há muitos anos já era sabido que a sofisticação dos mecanismos narrativos viram a consagrar o que se tinha como modelo clássico cinematográfico. As experiências de multiplicação e aumento das telas deu-se pelas novas tecnologias digitais, que a cada dia só crescem. Isso tudo nos trás uma nova maneira de relacionar-se com as imagens: as pequenas telas, a baixa resolução, vasta compreensão de imagem, pixels, atrasos e até mesmo interrupção pela taxa de transferência dos dados. Ou seja, a diversidade das telas, sua presença em todo e qualquer lugar, sua relação entre os novos dispositivos móveis e também os próprios usuários, vai muito além do real o qual era crucial para o que era o cinema tradicionalmente. Claro que em meio a todos esses fatos, fazer-se de corpo presente é fundamental para que esses novos sistemas obtenham uma imersão que dê resultado, que funcione. A tecnologia aqui não é tratada como um evento revolucionário e sim como uma nova forma de construir algo mais aprimorado e dinâmico daquilo que já existe.
Conforme o autor:
“Ao tomar a percepção humana como modelo de registro do real, e entendendo a perfeição absoluta como essência das tecnologias (segundo o modelo tecnicista), retira-se dessa percepção humana um caráter singular, histórico e culturalmente construído. Tornam-se como homogêneos e invariáveis os modelos de visão, audição, tato, paladar e olfato. Com isso, define-se uma visão ideal, uma escuta ideal etc”. (CASTANHEIRA, 2012, p. 05)
Nesse caso, a realidade que se representa e todo o processo a qual ela se faz serão sempre, de certa forma, codificados. É a relação dispositivos versus pessoas: cada meio possui sua versão própria da realidade e a partir disso codifica de forma específica todo e qualquer sistema solicitado para que a representação seja bem sucedida. Assim, as condições básicas suficientes para representar o real são estabelecidas para cada nova tecnologia possuir sua versão do que é real frente ao que já existe. O que temos é apenas a representação da representação.
Hoje, toda atividade de qualquer ser humano tem como companhia a tecnologia inserida no seu cotidiano. Essa rede a qual vem sendo construída também é um reflexo da necessidade de pertencimento, de se encontrar num novo contexto social. Para essas pessoas, todo o mundo online e seus respectivos dispositivos proporcionam uma nova maneira de ver e ouvir (sejam grandes telas, IMAX, computadores, tablets ou celulares), e com isso a compreensão desses novos processos mais técnicos proporciona uma readaptação não prevista para o espectador.
A partir daqui percebemos que essa pode ser a principal mudança no consumo de som e imagem atualmente. Com uma vasta gama dessas tecnologias digitais, permite-se uma apropriação não usual por todos que não partilham dos mesmos ideais, possibilitando diversas formas do uso (ou falhas) nos dispositivos, tornando todo um sistema de códigos uma ferramenta com maior alcance e fluidez. Para Castanheira (2012),
“Habitamos um ambiente tecnológico em que praticamente nada passa ao largo das telas. Vivemos cada vez mais em função de um organismo invasivo, funcionando de forma simbiótica, acoplado, muitas vezes, ao nosso próprio corpo”. (CASTANHEIRA, 2012, p. 12)
Existe uma demanda pela fidelidade nas novas tecnologias: mobilidade, conexão e troca instantânea de documentos/arquivos requerem dispositivos práticos. Sem dúvida, essas relações estabelecidas configuram-se num novo comportamento frente às tecnologias que nos são postas, influenciando a forma de ver filmes, ouvir música, em qualquer lugar e a qualquer hora. Podemos interromper seu fluxo, alterar seu tamanho, editar, salvar e compartilhar para outra pessoa. Esse é basicamente um mundo convertido em dados.
CONCLUSÃO
O que podemos relacionar entre os autores, é a sua visão frente as novas tecnologias digitais. A partir do momento em que temos ao alcance dos usuários o poder de ser o editor do seu próprio conteúdo, ter acesso ilimitado a produtos que não é possível ter em espaços físicos e estarem imersos numa vasta rede de possibilidades, abandonamos a postura passiva frente a toda e qualquer mídia. Não apenas receptores, mas sim produtores. A possibilidade de criarmos novos conteúdos, aliada ao fato de existir público e publicidade para esta mídia, indica que vivemos em uma grande rede codificada.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. RJ: Elsevier, 2006.
CASTANHEIRA, J.C. O tamanho das telas: tecnologias e novos modelos de ver e ouvir. In:VI Simpósio Nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber), Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, 2012.