Dia desses no intervalo de almoço, percebi que um colega meu na agência onde trabalho estava jogando alguma coisa em sua máquina. Perguntei para ele o que era: era Old SchoolRuneScape. Pedi então para que ele me falasse mais sobre o jogo, pois eu desconhecia e mesmo assim me chamou a atenção por me remeter ao que estou pesquisando na dissertação (ou ao contemplar uma característica que me atrai na minha pesquisa).
RuneScape 3 e Old School RuneScape são jogos estilo MMORPG (gratuito), desenvolvido pela Jagex, tendo seu primeiro lançamento em 2001. Originalmente, este é um jogo de navegador elaborado a partir da linguagem Java, mas que em 2016 grande parte de sua programação foi substituída por um cliente autônomo codificado em C++. O jogo se passa no mundo de Gielinor, um reino de fantasia medieval o qual se divide em reinos, regiões e cidades distintas. Além dos bons elementos de RPG presentes no jogo, o universo fictício da série também foi explorado através de um videogame em outro site do próprio fabricante: o FunOrb, o Armies of Gielinor bem como os romances Betrayal at Falador, Return to Canifis e Legacy of Blood.
Com a crescente de sua popularidade, RuneScape teve seu mecanismo reescrito e lançado como RuneScape 2, tendo a sua versão original do jogo renomeada como RuneScape Classic. Meu colega de trabalho explicou que RuneScape é um jogo que ele jogava quando estava na 7ª série e que em 2013 os desenvolvedores lançaram essa versão ‘ Old School RuneScape’ após realizarem uma pesquisa com a comunidade do jogo. Isso aconteceu por conta da evolução de RuneScape 2: houve uma mudança na forma de combate, além do problema de que alguns jogadores quando entravam no PVP, trocavam por dinheiro real o que adquiriam em jogo. Com isso, os desenvolvedores tiveram uma atitude: você poderia matar no modo PVP outros jogadores, mas não ficaria com nada do oponente no caso de derrotá-lo.
Passaram-se alguns meses e no mesmo ano (2013) lançaram RuneScape 3, que não fez tanto sucesso entre a comunidade, tendo até mesmo o gráfico do jogo diferente. Hoje, Old SchoolRuneScape possui mais jogadores do que o RuneScape 3, o que reforça essa relação afetiva entra as comunidades e seus respectivos jogos. Ou seja, há uma espécie de nostalgia pela versão original do jogo após o lançamento de RuneScape 3, um movimento de resgatar seja uma memória numa espécie de tributo às raízes, sentimento este identificado a partir dessa pesquisa em meio à comunidade da série de jogos. Isso tudo transmite uma sensação de que efetivamente construímos um mundo virtual, exploramos suas terras virtuais e ali criamos uma cultura própria, a qual nos possibilita pensar sobre suas particularidades em um movimento como arqueo-jogadores: escavar este grande sítio arqueológico em Gielinor e não encontrar apenas artefatos de uma cultura co-criada com sua comunidade, mas dar a ver vestígios de tempos e uma lembrança de um outro tempo resgatada para revivê-la hoje. Uma espécie de um eterno retorno, de uma lembrança viva, de um efeito déjà vu enquanto atualização em uma versão do jogo original, denominada Old School RuneScape.
Old School RuneScape é literamente o mesmo jogo do RuneScape 2, sem nada diferente: mantiveram o mesmo gráfico, o mesmo gameplay. Porém a novidade é que com a introdução do Old School RuneScape, o jogo é reconhecido como ter a participação de sua comunidade para contribuir com o melhor desempenho do jogo, tendo votações abertas se determinada melhoria entra ou não no jogo (uma nova missão entre outros). Não é uma “remasterização”. Trouxeram o nome “old school” para simbolizar esse resgate do jogo. Outra curiosidade interessante é o visual do site do jogo: é como se eu estivesse acessando um site no final dos anos 90 e início dos anos 00 (site: https://oldschool.runescape.com/). Há um apelo nostálgico em todas as suas formas e particularidades neste jogo, seja no resgate de sua primeira versão com uma nova roupagem “Old School” quanto pela forma de se divulgar enquanto franquia no seu site. Mais um reforço quanto a importância de refletirmos sobre como os jogos percebem a si mesmos dentro de uma ambiência tecnocultural.